A questão hondurenha:
David x Golias
Helio Dias Viana
Os acontecimentos de Honduras são simples e de fácil compreensão. Eles foram, contudo, totalmente distorcidos.
Como em todo país civilizado, existe ali uma Constituição, a qual entre outras coisas prevê que o mandato presidencial é único, proíbe a reeleição e declara automaticamente destituído de suas funções e sujeito às penalidades da lei quem agir em sentido contrário.
Ora, Manuel Zelaya, presidente de turno em fim de mandato, movido por nefasta influência que de algum tempo a esta parte recebe do ditador venezuelano Hugo Chávez, se julgou como este superior à lei e decidiu desobedecer à Constituição. Convocou para isso um plebiscito que lhe possibilitasse apresentar-se novamente como candidato, apesar de ter sido advertido dessa impossibilidade pelos poderes competentes.
Mas ele não se deteve. Animado por Chávez e outros componentes da esquerda latino-americana, Zelaya obteve da Venezuela inclusive as urnas e as cédulas a serem utilizadas no plebiscito. Só não consta se foram enviados também os computadores com os resultados já pré-estabelecidos... como, segundo se suspeita, pode ter acontecido na Bolívia e no Equador, onde consultas análogas foram feitas, com êxito para a esquerda.
Estava assim caracterizado o golpe; branco, é verdade, mas golpe. As autoridades constituídas dos poderes Legislativo e Judiciário não fizeram senão declarar Zelaya destituído de seu cargo e sujeito às penalidades previstas por violação da norma constitucional, tendo ele em seguida sido expulso do país pelo Exército, que julgou sua presença nociva para a tranqüilidade pública. Não podendo “embarcar” em novo mandato através das urnas da Venezuela, Zelaya ao menos teve a consolação de embarcar para seu exílio forçado num avião daquele país.
Crescia entrementes a pressão contra Honduras. Pois a esquerda internacional, mestra na arte de dissimular, seguidora meticulosa do preceito de Voltaire “menti, menti, alguma coisa sempre ficará”, julgou urgente dar dos fatos a versão que lhe convinha. Tanto mais quanto ela percebia que a punição imposta a Zelaya a comprometia como um todo e abria perigoso precedente. Atirou-se então à faina.
Assim, de golpista Zelaya se transformou em vítima e, com raras exceções, toda a tuba publicitária mundial se pôs a noticiar com furibunda indignação o “Golpe de Estado de Honduras”.
A partir daí, diversos Chefes de Estado – vários dos quais complacentes com as piores ditaduras de esquerda – se puseram a recriminar em uníssono a destituição de Zelaya. O Presidente do Brasil, por exemplo, não se envergonhou de fazê-lo da Líbia, onde se encontrava ao lado do “democrata” Gadafi, e pouco depois de ter condenado com veemência a oposição iraniana a Ahmadinejad...
Por sua vez, a ONU e a OEA – a primeira tão inoperante quanto desmoralizada, com padrão de grandeza restrito ao número de seus membros e tamanho de suas instalações, e a segunda alvo constante dos ataques de membros da ALBA – se tomaram repentinamente de um brio que não demonstram em relação aos regimes de esquerda e, quais novos Golias, lançaram contra Honduras uma “cruzada sem cruz”.
Foi assim que, do alto da presidência da ONU, onde certas forças misteriosamente o alçaram, Miguel D’Escoto, padre apóstata da “Teologia da Libertação” e ex-chanceler da Nicarágua sandinista, fustigou contra Honduras seu anátema, recebido como dogma por aquela Assembléia laica, cuja “Homilia com a versão dos fatos segundo a Mídia” foi lida pelo acólito ad hoc Manuel Zelaya.
De fato, com essa missão, o secretário-geral da OEA desempenhou o papel de embaixador da ALBA, pois ele perseguia precisamente o que desejavam Hugo Chávez e seus cúmplices: a manutenção de Zelaya no poder, com a posibilidade de vir a transformar Honduras em satélite da Venezuela e de Cuba. Tendo malogrado na sua tentativa, Insulza decidiu a expulsão Honduras da OEA. Mas chegou tarde, pois aquela já se havia destacado da organização que readmitiu Cuba.
Enquanto isso, na Nicarágua, foi montado um teatro de operações para o qual se transladou Zelaya, a fim de, juntamente com Ortega, Chávez e Rafael Correa, exercerem maior pressão contra Honduras. Não adiantou.
Tal novo David, Honduras prevaleceu, pelo menos até o momento. Mas cumpre que ela não abaixe a guarda e se compenetre cada vez mais de que sua luta é contra um velho inimigo, polimórfico e insidioso: o comunismo internacional, ressurgido na América Latina sob a forma de bolivarianismo, com ramificações no mundo islâmico e forte respaldo na “Teologia da Libertação”.