sexta-feira, 4 de maio de 2012

Realidade, esta coisa tão necessária...

O conhecido jornalista francês Gilles Lapouge declarou que,
se fosse diretor de jornal, sua primeira providência seria mandar
os repórteres para a rua, a fim de conversarem com as
pessoas e verem a realidade do dia-a-dia
Qualquer consulta para auscultar a opinião das pessoas sobre segurança, ensino público e serviço de saúde — para citar só estes itens —, ou a respeito do nível moral dos nossos programas televisivos, receberia respostas altamente negativas. E caso ainda se lhes perguntasse que perfil elas considerariam ideal para os governantes e demais lideranças — religiosas, políticas, judiciais, militares — a grande maioria das respostas teria um perfil conservador.

Embora esta seja a realidade do Brasil — a qual é reconhecida inclusive pelos próprios esquerdistas, que reclamam hoje de uma guinada à direita —, não se entende por que quase todos os candidatos aos mais altos cargos são de esquerda e, quando não o são, fazem tantas concessões a essa orientação que não se sabe bem o que dela os separa.

O resultado é que estamos sendo governados por pessoas que parecem cegas quanto à situação real deste país, que ainda tem muito de conservador, e que vão avançando como se vivêssemos no oposto. O que constitui uma temeridade, pois, por mais que os atuais governantes se sintam apoiados pelas instâncias do mundo oficial e pelos meios de comunicação, nenhum governo se mantém estavelmente sem o apoio da opinião pública, a não ser numa ditadura, e assim mesmo por tempo não muito longo.

Mas essa cegueira parece não ser apanágio apenas de governantes. Em entrevista à TV Estado, o conhecido jornalista francês Gilles Lapouge declarou que, se fosse diretor de jornal, sua primeira providência seria mandar os repórteres para a rua, a fim de conversarem com as pessoas e verem a realidade do dia-a-dia. A partir daí redigiriam as notícias, e não ficariam mais nas redações elaborando matérias cerebrinas sem nexo com a vida real.

O que se depreende de suas observações é que inúmeros jornalistas vêem a realidade mais ou menos como os nossos governantes, ou seja, como algo supérfluo. Porém, mesmo adotando essa falsa visualização, deveriam lembrar-se do que disse o ímpio Voltaire: “o supérfluo, esta coisa tão necessária”.

Qual poderá ser o resultado de tudo disso?

Creio que pelo menos boa parte da resposta se encontra no que sucede nos EUA. Ali — para dar apenas um exemplo — o ex-candidato católico de discurso “politicamente incorreto” Rick Santorum [foto], que era considerado por isso mesmo sem nenhuma chance, ameaçou suplantar seu rival Mitt Romney para disputar com Obama a presidência. E sua ascensão veio se afirmando na razão direta em que subia o tom conservador de sua fala. Mesmo que ele tenha desistido da disputa eleitoral, o fato concreto é que sua campanha pôs em realce a enorme força e empuxe do conservadorismo americano.

Pois bem, nos EUA do século XXI, no qual se mostra uma forte corrente de opinião conservadora, que por muitos aspectos se diria “ultramontanizada”, o presidente Obama continua a pisar obstinadamente no acelerador em direção à esquerda, como se não visse que diante dele se ergue essa enorme barreira, em face da qual a única atitude sensata seria frear. Sua última “acelerada” foi o decreto obrigando as instituições — inclusive as católicas — a financiar medidas anticoncepcionais e abortivas para os seus funcionários, o que gerou um clamor nacional de grandes proporções. Pelo menos 181 Arcebispos e Bispos se declararam fortemente contrários à medida, sendo acompanhados por mais de 2.500 líderes de diversas confissões religiosas.


No Brasil, um claro e recente “avançar contra a barreira” foi, por exemplo, a nomeação para o Ministério de Eleonora Menicucci [foto]— antiga companheira de prisão da presidente Dilma —, a qual, entre outras coisas extremamente chocantes, declarou ter praticado dois abortos e aprendido como executá-los.

Manter, a qualquer custo, um regime falido 

Resta perguntar por que tanta pertinácia da esquerda em continuar avançando, ao invés de imitar os beduínos que, diante da tempestade de areia no deserto, se deitam com seus camelos até a tempestade passar. A resposta parece ser que, no árido e imenso deserto no qual a esquerda se encontra, não lhe restaria outra saída senão continuar avançando, mesmo ao preço de perder parcelas cada vez maiores do grande público, pois se não fizer progredir as causas revolucionárias, acabará desapontando suas próprias bases e ficando à deriva.

Nesse sentido, pode-se admitir que a manutenção a todo custo do esfarrapado regime comunista em Cuba foi tão-só para conservar acesa a chama revolucionária nas bases esquerdistas no mundo inteiro, mais especialmente da América Latina.

Mas essas mesmas bases devem agora entender que o problema que se põe atualmente para o comunismo cubano é o da sobrevivência. Assim, como sucedeu com a China, chegou o momento de — sem prejuízo do regime comunista da geriatria cubana — estabelecer ao mesmo tempo na ilha-prisão um arremedo de livre mercado segundo a “fórmula chinesa”. É o que está sendo esboçado na região em que se localiza o porto de Mariel.

Para o êxito desta nova manobra não faltarão as bênçãos do Cardeal Dom Jaime Ortega, Arcebispo de Havana, e abundante dinheiro do Brasil — aplicação tão distante de tantas de nossas reais e prementes necessidades.