quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os inseparáveis público e privado

Em nossos dias em que o liberalismo levado às suas últimas consequências desfechou – como não poderia deixar de ser – na mais completa libertinagem, um dos argumentos utilizados para se chegar a tal paroxismo foi o de que a vida privada dos indivíduos nada tem que ver com a sua vida pública. Como se aos homens fosse possível “pintar e bordar” individualmente e depois serem bons chefes de famílias ou de empresas, ou administradores públicos exemplares!

Pensar assim seria ignorar a natureza humana, a qual constitui um só todo inseparável, e, portanto, o que se diz aqui dos chefes ou dos administradores vale para qualquer outra atividade ou profissão. Ninguém consegue, ainda que o tente de todos os modos, observar uma conduta externa que não seja uma projeção de sua vida privada.

Um líder, por exemplo, que queira permanecer fiel aos seus princípios e não andar ao sabor da moda e das ideias extravagantes, só conseguirá fazê-lo se na sua vida privada ele for correto. Vale aqui lembrar a sentença de Paul Claudel, citada por Plinio Corrêa de Oliveira em seu célebre ensaio Revolução e Contra-Revolução: “Cumpre viver como se pensa, sob pena de mais cedo ou mais tarde acabar por pensar como se viveu”.

À vista disso, é toda a organização social que se ressente, pois quando os que a compõem não agem segundo esses princípios, ela marcha para a destruição. Quem pode negar, por exemplo, que uma empresa cujo diretor seja chefe de uma família bem constituída, tenha maior possibilidade de êxito do que a de outro que não viva nessas condições? Simplesmente porque o primeiro terá mais condições psicológicas e apoio colateral para levar a bom termo as suas atividades do que o segundo. Situação que depois se transmitirá aos filhos. Nesse sentido, não se pode negar que a indissolubilidade matrimonial contribui eficazmente para o progresso econômico da sociedade e das nações.

O que dizer então dos chefes de Estado, de quem a nação inteira tem o direito de esperar o bom exemplo e aos quais incumbe o dever de dá-lo? O que sobraria hoje de instituições altamente respeitáveis, de cujo seio eram outrora excluídos os que não tivessem boa conduta? Lucraram tais instituições ao abolirem essas normas? Lucraram sequer os seus membros, que se viam assim protegidos? Lucrou a sociedade?

Não passa, portanto, de uma falácia pensar que seja possível separar a conduta pública da privada sem provocar grandes tragédias. Que o digam os dias em que vivemos!