domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Espírito Santo e o Conclave

O Conclave se realiza na Capela Sistina. Situada no Palácio Apostólico,
 residência oficial do Papa na Cidade do Vaticano, ela tem seu
nome em homenagem ao Papa Sisto IV, que restaurou
 a antiga Capela Magna, entre 1477 e 1480.
Em face da inusitada abdicação de Bento XVI, estamos na iminência de um conclave para eleger o novo Papa.

É corrente e inteiramente conforme com a verdade admitir a ação do Divino Espírito Santo nessa ocasião.

Mas cumpre esclarecer que, contrariamente ao que muitos pensam, o Espírito Santo não age sozinho.

A escolha será feita por homens — no caso, por cardeais, livres para corresponder ou não às inspirações do Paráclito —, de tal forma que, ao sair o novo Papa, não se pode pura e simplesmente dizer que foi o Espírito Santo que o escolheu.

Quantas vezes o Espírito Santo se tem deixado “derrotar” por injunções políticas dos homens, para castigo destes!

Aliás, o vaticanista norte-americano John Allen reproduz as seguintes palavras de Bento XVI, quando perguntado sobre o papel do Espírito Santo na eleição dos Papas:

“Eu não diria, no sentido de que o Espírito Santo escolhe o Papa. [...] Eu diria que o Espírito Santo não assume propriamente controle da questão, mas que, como bom educador que é, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar inteiramente. Portanto, o papel do Espírito Santo deveria ser entendido num sentido muito mais elástico, não de que Ele dite o candidato no qual devemos votar...”.


* * *

Foi pensando em tudo isso que me veio à mente a enorme expectativa criada pelo lulo-petismo em torno do anterior conclave que elegeu Papa o então Cardeal Ratzinger, em 2005.

O PT esperava ver alçado à direção suprema da Igreja um cardeal brasileiro que simpatizasse com sua causa, pois, diziam seus líderes, para a vitória definitiva do socialismo no Brasil e na América Latina, só precisavam de um Papa que os apoiasse. E Dom Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo, estava então no centro da preferência dos petistas.

Essa expectativa, como se vê, não se realizou. E, apesar de aparelhado nestes últimos dez anos, o governo petista continua desnorteado, pois não conta com o apoio da opinião pública majoritariamente católica. E seu malogro nas últimas eleições municipais só não foi maior, porque obteve nos meios eclesiásticos de São Paulo, alguém que foi decisivo para a vitória do marxista Fernando Haddad.

Mas pode-se perguntar: se a expectativa petista para o conclave de 2005 tivesse se verificado, a escolha teria sido inspirada pelo Espírito Santo?

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As “conversações exploratórias” de paz: Desmobilização da Narcoguerrilha ou da Colômbia?

Enquanto heroicos militares são encarcerados, o atual governo colombiano, encenando o papel de Kerensky, abre as portas para sanguinários terroristas

As recém-anunciadas “conversações exploratórias” governamentais com a narcoguerrilha — inauguradas oficialmente no dia 4 de setembro de 2012 com inaudita cobertura publicitária — vêm se revelando uma ofensiva psicológica de desmobilização da opinião pública colombiana para fazê-la aceitar reivindicações da narcoguerrilha nas quais estão previstas, entre outras coisas, a Reforma Agrária e a inserção dos chefes guerrilheiros na vida política do País.

Para nos darmos conta do cenário em que as referidas conversações se movem e alguns de seus atores, temos primeiramente Cuba, com seus dois ditadores sanguinários que tentaram inúmeras vezes implantar o comunismo na Colômbia; e depois a Venezuela, com o conhecido apoio de Hugo Chávez à narcoguerrilha e as ameaças — inclusive bélicas — feitas por ele ao governo colombiano por ocasião da morte do guerrilheiro Raúl Reyes.

Por sua vez, na Noruega — país que se ofereceu como mediador e financiador das conversações —, perfila-se como possível participante das conversações o ex-vice-chanceler Jan Egeland. Atual diretor para a Europa do Human Rights Watch, organização reconhecidamente de esquerda, ele viveu durante muitos anos na Colômbia e atuou como delegado da ONU nas desastrosas negociações de paz de El Caguán, um ‘santuário’ de 42.000 km2, destinado pelo governo de Andrés Pastrana à guerrilha, no qual o Exército estava proibido de entrar.

Esse ambiente filocomunista em torno das conversações de paz está também presente internamente na Colômbia. Após 14 anos, membros do Partido Comunista estiveram no Palácio de Nariño, sede do governo, para oferecer sua colaboração ao presidente Santos. Idêntica colaboração lhe foi oferecida por Gustavo Petro, ex-terrorista e atual prefeito de Bogotá, entusiasta da iniciativa presidencial e que por experiência própria sabe quão maiores são as vantagens auferidas pela guerrilha com a política que com as armas.

Um “Kerensky colombiano”

Embora o presidente Santos tenha colocado um ou outro colaborador de matiz não esquerdista – inclusive dois generais – na sua iniciativa de paz, este fato não lhe tira a sua extrema gravidade, e de algum modo até contribui para tranqüilizar a população. Ademais, como colocar ao lado de pessoas dessas uma ex-senadora Piedad Córdoba, que embora não figure como participante oficial nas negociações já se anunciou que terá papel relevante no resultado das mesmas? Como dirigente das “Marchas Patrióticas”, uma espécie de MST colombiano, ela tem conhecidos nexos com as Farc e recentemente incitou os índios do Cauca a se insurgirem contra o governo.

Também notório é o papel a ser desempenhado pelo ex-sindicalista Luis Eduardo Garzón. Prefeito de Bogotá de 2004 a 2007 pelo partido de esquerda Polo Democrático — ao qual pertencia o atual prefeito —, Lucho Garzón já havia participado em conversações de paz com as guerrilhas em Mainz, na Alemanha, no ano de 1997. Essas conversações foram cercadas do maior sigilo e contaram com o apoio das Conferências Episcopais da Alemanha e da Colômbia. Lucho foi agora nomeado Ministro Extraordinário da Mobilização e Diálogos Sociais. Em entrevista concedida à jornalista Maria Isabel Rueda (“El Tiempo”, 3-9-12), ele reconhece não mais existir oxigênio para a luta armada e que atualmente a palavra é mais importante do que as armas.

Fica-se com a forte impressão de que, se as atuais conversações obtiverem o que foi anunciado, depois delas a Colômbia não será a mesma. E se o presidente Santos não puder realizar todas as reformas exigidas pela narcoguerrilha, ele está em todo caso preparando o caminho para que um próximo governo as faça. Um governo com ex-guerrilheiros ocupando cargos políticos diversos, e fazendo através da legislação o que não conseguem alcançar por meio das armas. Com isso Juan Manuel Santos estará representando na Colômbia o papel desempenhado por Kerensky na Rússia pré-comunista, e poderá passar para a História como sendo o “Kerensky colombiano”.

Heroicos militares presos, terroristas livres

Por sua vez, a opinião pública acompanha com apreensão os acontecimentos. Ela vê de um lado as Farc — apoiadas por Cuba e pela Venezuela — serem tratadas como amigas, e de outro lado inúmeros militares sendo condenados a altas penas de prisão, frequentemente com base em testemunhas falsas. Segundo informa a já citada jornalista Maria Isabel Rueda no artigo “Ordem na casa” (“El Tiempo”, 2-9-12), “cerca de 17.000 militares colombianos estão atualmente condenados ou detidos”. Sim, dezessete mil! Ou seja, o número de militares nessa situação é o dobro do contingente de guerrilheiros das Farc, estimados em 8.500!
A mais recente condenação, a 25 anos de prisão, foi a do general Rito Alejo del Río. Embora o próprio juiz tenha reconhecido que ele não cometeu crime, condenou-o sob a alegação de que o general não protegeu um camponês que foi morto por paramilitares na imensa área sob a sua jurisdição! Cumpre lembrar que Del Río, preso há mais de quatro anos, fora destituído do comando de sua brigada pelo ex-presidente Andrés Pastrana por exigência das Farc como condição para as conversações de paz de El Caguán! Apesar de preso, o general continua a incutir medo aos guerrilheiros. ‘Timochenko’, líder máximo das Farc, o atacou no discurso que pronunciou no dia 4 de setembro em Havana, pouco depois de o presidente Santos ter anunciado o início das negociações.

Outro herói nacional em análoga situação é o famoso coronel Plazas. Ele se celebrizou quando em 9 de novembro de 1985 entrou com seus tanques no Palácio de Justiça ocupado por terroristas que queriam pôr a Colômbia de joelhos. Como não o conseguiram, atearam fogo ao Palácio. Enquanto remanescentes ou seguidores desses inimigos da Nação ocupam hoje prestigiosos cargos públicos, o coronel foi condenado a 20 anos de prisão, com base em uma testemunha que se provou ter sido falsa.

O genial cérebro da famosa “Operación Jaque” (xeque-mate) — a qual, sem disparar um só tiro, libertou Ingrid Bittencourt, três norte-americanos e onze soldados colombianos — pode ser hoje visto no pátio da prisão militar onde está confinado. Só que transformado em “major-padeiro”, vendendo seus pães... Não espantaria se a causa de sua condenção tiver sido por enganar a “boa fé” dos guerrilheiros fazendo-os embarcar em avião do Exército ostentando o emblema da Cruz Vermelha... É assim que trata os seus heróis um governo tão solícito em negociar com terroristas assassinos prenhes das mais sinistras intenções!
Mais escandaloso, por fim, é o caso do general Jaime Uzcátegui. Encontra-se preso há treze anos, tendo sido condenado a uma pena de 40 anos por um crime cometido por paramilitares em uma área que nem sequer era de sua jurisdição!

Teologia da Libertação — o vergonhoso papel da esquerda “católica”

Infelizmente esta é a situação. Enquanto nas relações do governo com a narcoguerrilha reinam a confiança e o desejo de acordo, a ponto de ambos declararem que não se levantarão da mesa de negociações enquanto a paz não tiver sido selada (satisfazendo a guerrilha, entre outras coisas, com uma Reforma Agrária socialista e com preciosos privilégios políticos, como já assinalamos), em relação aos militares rondam a suspicácia, a animadversão e a prisão!

Diante de tudo isso, a Conferência Episcopal mais uma vez sai à frente... para apoiar a temerária iniciativa presidencial de negociação com a narcoguerrilha. No que ela é superada somente por alguns sacerdotes jesuítas, entre os quais se destaca o padre Javier Giraldo Moreno. Há quarenta anos à frente do Centro de Investigação e Educação Popular — CINEP, um think tank da “Teologia da Libertação”, o padre Giraldo é um dos principais inimigos dos militares e não oculta sua simpatia pelo regime comunista cubano. Vejamos a seguinte notícia, publicada em 15 de agosto de 2012:

“O padre Giraldo celebrou os 86 anos de Fidel Castro — O padre jesuíta Javier Giraldo juntou-se a vários colombianos para celebrar o aniversário número 86 de Fidel Castro no auditório da Associação Distrital de Educadores de Bogotá (ADE). O defensor dos Direitos Humanos celebrou uma eucaristia ambientada com a bandeira de Cuba e imagens do líder. Assistiram funcionários da Prefeitura e diplomatas da embaixada de Cuba na Colômbia” (http://www.kienyke.com/confidencias/el-padre-giraldo-celebro-los-86-anos-de-fidel-castro/).

Esse grande admirador, não de Santo Inácio de Loyola, mas de Fidel Castro, o é também do ex-guerrilheiro padre Camilo Torres, de cuja obra se diz continuador. No tocante à superioridade da luta ideológica sobre a bélica, ele pensa, aliás, do mesmo modo que aqueles que querem trazer para essa arena os hoje enfraquecidos líderes guerrilheiros. Sob o título “O polêmico Padre Javier Giraldo”, ele é assim descrito no site do CINEP:

“Desde aquele encontro distante [com o padre Camilo Torres], o padre Giraldo soube que sua vida estaria dedicada a defender os oprimidos. Como todos os colombianos da época, viveu a incerteza de não saber o que havia acontecido ao desaparecer Torres da cena pública, em dezembro de 1965, até quando se soube em janeiro do ano seguinte, que havia ingressado no ELN [Exército de Libertação Nacional]. Em 16 de fevereiro desse ano morreu em seu primeiro combate. Javier entendeu desde então que continuaria sua obra, mas por um caminho diferente do das armas. Seguiria os passos dos padres de Golconda, de monsenhor Valencia Cano e de tantos outros comprometidos com a Teologia da Libertação”.


Quanto ao alcance dessa via de pacificação, cumpre recordar aqui o que José Dirceu certa vez escreveu como tendo ouvido de Fidel Castro: o ditador disse que teria evitado muitos erros, se no início da revolução cubana tivesse conhecido a “Teologia da Libertação”.

No momento em que a Rússia fala em reinstalar bases militares em Cuba e o câncer bolivariano deita metástases no Continente, a Colômbia está numa encruzilhada: ou continua fiel às suas tradições católicas e enfrenta a narcoguerrilha, ou se deixa manipular por sinistros complôs orquestrados sob o bafejo de Cuba, da Venezuela e da “Teologia da Libertação” para empurrá-la à situação em que hoje gemem os países dominados pela tirania comunista.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Forte como um guerreiro, bondosa como a melhor das mães


A foto apresenta uma vista noturna da igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Considerada por muitos a obra-prima do genial escultor mineiro, sua construção teve início em 1766.

O jogo de luzes, em contraste com o negrume da noite, causa a impressão de que o edifício acabou de descer do céu. Impressão sugerida por uma ousada verticalidade desse conjunto rijamente fixado no solo granítico, acentuada pela sua leveza aristocrática, forte, banhada por nota de superior pureza.

As paredes brancas, enriquecidas pela obra de cantaria, convergem para a esplêndida porta principal, ponto monárquico do edifício, a partir da qual, como num jorro de chafariz, vai-se em linha reta até a cruz no alto. Ladeiam-na granadas pouco "ecumênicas" e duas torres elegantes e austeras, cujas pontas lembram capacetes prussianos. No meio do frontispício, um belo medalhão representa uma cena da vida do Doutor Seráfico, ao qual a igreja é consagrada.

O aspecto noturno concorre ainda para firmar a idéia da real proteção que a Igreja Católica exerce sobre os seus filhos. Enquanto a maioria deles talvez àquela hora dormem, forte como um guerreiro e bondosa como a melhor das mães, a Igreja por eles vela.

Belíssimo exemplo de equilíbrio da Santa Igreja, que o Aleijadinho compreendeu tão bem e soube eximiamente representar: um edifício sagrado, belo e guerreiro, consagrado ao santo da mansidão e da pobreza!

sábado, 14 de julho de 2012

Ideologia em vez de competência: critério do governo para a importação de médicos cubanos

Isolado na América Latina até o advento do Foro de São Paulo – segundo declarou Lula em vídeo-mensagem à 18ª. versão do referido foro, realizado em Caracas (vide abaixo) –, o regime comunista cubano está em vias de “exportar” para o Brasil, entre janeiro de fevereiro de 2013, nada menos que 1.500  médicos, para atender às regiões do interior do País. A escolha dessa data teria sido para não repercutir no resultado das eleições municipais de 2012.


O principal “mercado consumidor” de tais médicos – cuja capacidade para o exercício da profissão é mais do que duvidosa, como se verá, ao passo que sua formação ideológica não deixa lugar a nenhuma dúvida – foi até o momento a Venezuela chavista, onde não se sabe bem até que ponto eles se restringiram a simples atendimentos médicos e com que resultados.

Contudo, nos termos do referido vídeo-mensagem de Lula, no qual ele se jacta da militância hegemônica do PT e de seus aliados cubanos e bolivarianos para a implantação da “democracia” em todo o continente latino-americano (a Alemanha comunista também se chamava República Democrática Alemã – DDR), a pergunta que se depreende é se os tais 1.500 médicos não serão agentes comunistas destinados a colaborar na consecução de tal fim.

Tanto mais quanto ficou patente aos olhos de todos a inconformidade do bloco petista-bolivariano em face do impeachment inteiramente legal do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, a exemplo do que ocorrera em Honduras em relação a Manuel Zelaya, quando o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou que era algo inadmissível, porque a direita não podia ter mais vez na América Latina. Que democracia sui generis é essa, que só admite a esquerda?

Existe grande preocupação de que Hugo Chávez não se reeleja pela terceira vez ao cargo (sua nova candidatura foi obtida graças a mudanças arbitrárias feitas por ele na Constituição, sem que a esquerda protestasse – a mesma esquerda que gritou furiosa quando Álvaro Uribe quis fazer o mesmo na Colômbia, só que com fortíssimo respaldo popular) –, e foi para evitá-lo que o internacionalismo petista deslocou para a Venezuela a equipe de marketing de João Santana, sob os protestos da opinião pública, que reclama de interferência externa.

Não se sabe se além do João marqueteiro e de outro João – o “João de Deus”, curandeiro goiano que teria viajado à Venezuela em avião da FAB para tratar de Chávez –, a solidariedade petista enviará também, a exemplo do que ocorreu nas eleições anteriores do período chavista, as urnas eletrônicas brasileiras, as quais, não se sabe bem por que, Hugo Chávez, responsável pelo “excesso de democracia” em vigor na Venezuela, como disse Lula, quis introduzir sorrateiramente em Honduras antes da queda de Zelaya.

Voltando ao tema de Cuba – para cuja sobrevivência o regime chavista foi até aqui imprescindível –, cumpre lembrar que tudo, menos a “exportação” de médicos, poderia ser o resultado imediato da vultosa soma de dinheiro destinada pelo governo da presidente Dilma para a reforma do Porto de Mariel.

Para o leitor aquilatar a qualidade do “produto” a ser importado pelo governo petista, finalizo transcrevendo estes dois trechos de um artigo publicado por “O Estado de S. Paulo” em 3 de janeiro de 2011, sob o título de “Médicos reprovados”:

“Os resultados do projeto-piloto criado pelos Ministérios da Saúde e da Educação para validar diplomas de médicos formados no exterior confirmaram os temores das associações médicas brasileiras. Dos 628 profissionais que se inscreveram para os exames de proficiência e habilitação, 626 foram reprovados e apenas 2 conseguiram autorização para clinicar. A maioria dos candidatos se formou em faculdades argentinas, bolivianas e, principalmente, cubanas.

“[...] As faculdades cubanas – a mais conhecida é a Escola Latino-Americana de Medicina (Elam) de Havana – são estatais e seus alunos são escolhidos não por mérito, mas por afinidade ideológica. Os brasileiros que nelas estudam não se submeteram a um processo seletivo, tendo sido indicados por movimentos sociais, organizações não governamentais e partidos políticos. Dos 160 brasileiros que obtiveram diploma numa faculdade cubana de medicina, entre 1999 e 2007, 26 foram indicados pelo Movimento dos Sem-Terra (MST). Entre 2007 e 2008, organizações indígenas enviaram para lá 36 jovens índios.”

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Enquanto as FARC rearticuladas atacam, seus opositores militares purgam na cadeia!



A Colômbia sob o governo de Álvaro Uribe era o único país latino-americano que vinha tomando uma atitude firme e coerente em face da subversão comunista coadjuvada pelo bloco bolivariano, travando contra as FARC uma vitoriosa guerra, em visível contraste com a política entreguista e concessiva dos governos anteriores.

Contudo, colaboradores da narcoguerrilha aninhados em movimentos de direitos humanos e Ongs da mesma orientação, prevalecendo-se de uma brecha deixada por Uribe – a transferência do foro militar para a alçada civil – vêm obtendo das instâncias judiciais a prisão de milhares de militares, acusando-os da prática de crimes diversos.

Entre eles encontra-se a elite das Forças Armadas, cujos membros são detentores de uma inigualável folha de serviços prestados à Colômbia e, por consequência, ao continente. Assim, nada menos que seis generais, trinta coronéis, centenas de oficiais e suboficiais figuram entre os 2.420 militares atualmente presos.

Estão, por exemplo, nessa situação, o general Del Río e o coronel Plazas, ambos da reserva. O primeiro foi o mais destacado comandante militar colombiano na luta contra a subversão, tendo sido destituído pelo governo claudicante do ex-presidente Andrés Pastrana por imposição das FARC. E o segundo ficou imortalizado pela sensacional invasão e resgate, em 1985, do Palácio de Justiça (foto acima), ocupado por terroristas do M-19. Enquanto o general Del Río aguarda na prisão há cinco anos por julgamento, o coronel Plazas foi recentemente sentenciado a pagar 30 anos de reclusão por conta de uma acusação cujo autor se desconhece...

Figuram ainda, entre os presos, um coronel que foi um dos militares mais condecorados, considerado um dos maiores oficiais colombianos de todos os tempos (na prisão há cinco anos aguardando julgamento), e o major responsável pela organização e execução da espetacular Operación Jaque (xeque-mate), em decorrência da qual foram libertados, sem necessidade de um só tiro, Ingrid Bettancourt e diversos reféns da narcoguerrilha farcista.

Enquanto defensores da Pátria são assim jogados inexoravelmente nas prisões, ex-guerrilheiros ocupam cada vez mais posições de destaque no cenário político, chegando alguns deles à desfaçatez de propor o desarmamento das pessoas honestas. E os ataques terroristas crescem ao mesmo tempo em todo o país, um dos quais foi perpetrado recentemente em movimentada artéria de Bogotá, ceifando a vida de dois guarda-costas do ex-ministro da Justiça, Fernando Londoño, ferindo a este e diversas pessoas do público.

A ofensiva contra as Forças Armadas adquiriu tal proporção que “El Tiempo”, o principal jornal colombiano, noticiou em sua edição de 25 de junho de 2012, que dos 2.420 militares atualmente presos, somente 16% foram julgados. E que outros cinco mil encontram-se sob investigação. Mas que os atualmente presos que assinarem um termo de aceitação prévia de culpa – de acordo com o referido jornal, 2.200 já o fizeram – terão suas penas mitigadas.

Segundo o jornal, essa clamorosa situação levou o presidente da Associação Colombiana de Oficiais da Reserva, general Jaime Ruiz, a declarar: “Os militares não estão combatendo. Como o país se encontra hoje e com as garantias que está dando a seus soldados, não vale a pena defendê-lo”. A esta declaração – que ele diz traduzir o pensamento dos oficiais da ativa que não podem falar – soma-se uma dura carta enviada pelos militares da reserva ao presidente Juan Manuel Santos, na qual a certa altura dizem: “A Colômbia é o único país do mundo que enfrenta um conflito armado com legislação de paz e sem foro militar”.

“El Tiempo” conclui: “O certo é que muitos dos militares que ontem foram heróis públicos hoje estão na iminência de passar a metade de suas vidas na cadeia”.

Nossa conclusão é que, em nome dos “direitos humanos”, está sendo sacrificada a liberdade não só de valorosos militares injustamente punidos por terem ousado punir a subversão em defesa da Pátria ameaçada, mas a de 45 milhões de colombianos agredidos pelas FARC e que consideram suas Forças Armadas como a instituição de maior credibilidade do País.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os inseparáveis público e privado

Em nossos dias em que o liberalismo levado às suas últimas consequências desfechou – como não poderia deixar de ser – na mais completa libertinagem, um dos argumentos utilizados para se chegar a tal paroxismo foi o de que a vida privada dos indivíduos nada tem que ver com a sua vida pública. Como se aos homens fosse possível “pintar e bordar” individualmente e depois serem bons chefes de famílias ou de empresas, ou administradores públicos exemplares!

Pensar assim seria ignorar a natureza humana, a qual constitui um só todo inseparável, e, portanto, o que se diz aqui dos chefes ou dos administradores vale para qualquer outra atividade ou profissão. Ninguém consegue, ainda que o tente de todos os modos, observar uma conduta externa que não seja uma projeção de sua vida privada.

Um líder, por exemplo, que queira permanecer fiel aos seus princípios e não andar ao sabor da moda e das ideias extravagantes, só conseguirá fazê-lo se na sua vida privada ele for correto. Vale aqui lembrar a sentença de Paul Claudel, citada por Plinio Corrêa de Oliveira em seu célebre ensaio Revolução e Contra-Revolução: “Cumpre viver como se pensa, sob pena de mais cedo ou mais tarde acabar por pensar como se viveu”.

À vista disso, é toda a organização social que se ressente, pois quando os que a compõem não agem segundo esses princípios, ela marcha para a destruição. Quem pode negar, por exemplo, que uma empresa cujo diretor seja chefe de uma família bem constituída, tenha maior possibilidade de êxito do que a de outro que não viva nessas condições? Simplesmente porque o primeiro terá mais condições psicológicas e apoio colateral para levar a bom termo as suas atividades do que o segundo. Situação que depois se transmitirá aos filhos. Nesse sentido, não se pode negar que a indissolubilidade matrimonial contribui eficazmente para o progresso econômico da sociedade e das nações.

O que dizer então dos chefes de Estado, de quem a nação inteira tem o direito de esperar o bom exemplo e aos quais incumbe o dever de dá-lo? O que sobraria hoje de instituições altamente respeitáveis, de cujo seio eram outrora excluídos os que não tivessem boa conduta? Lucraram tais instituições ao abolirem essas normas? Lucraram sequer os seus membros, que se viam assim protegidos? Lucrou a sociedade?

Não passa, portanto, de uma falácia pensar que seja possível separar a conduta pública da privada sem provocar grandes tragédias. Que o digam os dias em que vivemos!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Realidade, esta coisa tão necessária...

O conhecido jornalista francês Gilles Lapouge declarou que,
se fosse diretor de jornal, sua primeira providência seria mandar
os repórteres para a rua, a fim de conversarem com as
pessoas e verem a realidade do dia-a-dia
Qualquer consulta para auscultar a opinião das pessoas sobre segurança, ensino público e serviço de saúde — para citar só estes itens —, ou a respeito do nível moral dos nossos programas televisivos, receberia respostas altamente negativas. E caso ainda se lhes perguntasse que perfil elas considerariam ideal para os governantes e demais lideranças — religiosas, políticas, judiciais, militares — a grande maioria das respostas teria um perfil conservador.

Embora esta seja a realidade do Brasil — a qual é reconhecida inclusive pelos próprios esquerdistas, que reclamam hoje de uma guinada à direita —, não se entende por que quase todos os candidatos aos mais altos cargos são de esquerda e, quando não o são, fazem tantas concessões a essa orientação que não se sabe bem o que dela os separa.

O resultado é que estamos sendo governados por pessoas que parecem cegas quanto à situação real deste país, que ainda tem muito de conservador, e que vão avançando como se vivêssemos no oposto. O que constitui uma temeridade, pois, por mais que os atuais governantes se sintam apoiados pelas instâncias do mundo oficial e pelos meios de comunicação, nenhum governo se mantém estavelmente sem o apoio da opinião pública, a não ser numa ditadura, e assim mesmo por tempo não muito longo.

Mas essa cegueira parece não ser apanágio apenas de governantes. Em entrevista à TV Estado, o conhecido jornalista francês Gilles Lapouge declarou que, se fosse diretor de jornal, sua primeira providência seria mandar os repórteres para a rua, a fim de conversarem com as pessoas e verem a realidade do dia-a-dia. A partir daí redigiriam as notícias, e não ficariam mais nas redações elaborando matérias cerebrinas sem nexo com a vida real.

O que se depreende de suas observações é que inúmeros jornalistas vêem a realidade mais ou menos como os nossos governantes, ou seja, como algo supérfluo. Porém, mesmo adotando essa falsa visualização, deveriam lembrar-se do que disse o ímpio Voltaire: “o supérfluo, esta coisa tão necessária”.

Qual poderá ser o resultado de tudo disso?

Creio que pelo menos boa parte da resposta se encontra no que sucede nos EUA. Ali — para dar apenas um exemplo — o ex-candidato católico de discurso “politicamente incorreto” Rick Santorum [foto], que era considerado por isso mesmo sem nenhuma chance, ameaçou suplantar seu rival Mitt Romney para disputar com Obama a presidência. E sua ascensão veio se afirmando na razão direta em que subia o tom conservador de sua fala. Mesmo que ele tenha desistido da disputa eleitoral, o fato concreto é que sua campanha pôs em realce a enorme força e empuxe do conservadorismo americano.

Pois bem, nos EUA do século XXI, no qual se mostra uma forte corrente de opinião conservadora, que por muitos aspectos se diria “ultramontanizada”, o presidente Obama continua a pisar obstinadamente no acelerador em direção à esquerda, como se não visse que diante dele se ergue essa enorme barreira, em face da qual a única atitude sensata seria frear. Sua última “acelerada” foi o decreto obrigando as instituições — inclusive as católicas — a financiar medidas anticoncepcionais e abortivas para os seus funcionários, o que gerou um clamor nacional de grandes proporções. Pelo menos 181 Arcebispos e Bispos se declararam fortemente contrários à medida, sendo acompanhados por mais de 2.500 líderes de diversas confissões religiosas.


No Brasil, um claro e recente “avançar contra a barreira” foi, por exemplo, a nomeação para o Ministério de Eleonora Menicucci [foto]— antiga companheira de prisão da presidente Dilma —, a qual, entre outras coisas extremamente chocantes, declarou ter praticado dois abortos e aprendido como executá-los.

Manter, a qualquer custo, um regime falido 

Resta perguntar por que tanta pertinácia da esquerda em continuar avançando, ao invés de imitar os beduínos que, diante da tempestade de areia no deserto, se deitam com seus camelos até a tempestade passar. A resposta parece ser que, no árido e imenso deserto no qual a esquerda se encontra, não lhe restaria outra saída senão continuar avançando, mesmo ao preço de perder parcelas cada vez maiores do grande público, pois se não fizer progredir as causas revolucionárias, acabará desapontando suas próprias bases e ficando à deriva.

Nesse sentido, pode-se admitir que a manutenção a todo custo do esfarrapado regime comunista em Cuba foi tão-só para conservar acesa a chama revolucionária nas bases esquerdistas no mundo inteiro, mais especialmente da América Latina.

Mas essas mesmas bases devem agora entender que o problema que se põe atualmente para o comunismo cubano é o da sobrevivência. Assim, como sucedeu com a China, chegou o momento de — sem prejuízo do regime comunista da geriatria cubana — estabelecer ao mesmo tempo na ilha-prisão um arremedo de livre mercado segundo a “fórmula chinesa”. É o que está sendo esboçado na região em que se localiza o porto de Mariel.

Para o êxito desta nova manobra não faltarão as bênçãos do Cardeal Dom Jaime Ortega, Arcebispo de Havana, e abundante dinheiro do Brasil — aplicação tão distante de tantas de nossas reais e prementes necessidades.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Torre de Babel das Américas



A bela cidade de Cartagena, na Colômbia, fortemente impregnada pela influência da arquitetura colonial espanhola de Felipe II, foi palco de um evento patrocinado pela OEA – a VI Cúpula das Américas, que reuniu 31 chefes de Estado entre os dias 14 e 15 de abril de 2012.

Brilharam pela ausência, além de Hugo Chávez, em tratamento de câncer no “paraíso” cubano, seus colegas ideológicos Rafael Correa, do Equador, e Daniel Ortega, da Nicarágua, estes dois últimos em solidariedade com Cuba, que não tem assento no evento.

Quem queira encontrar uma metáfora para exprimir o que se passou em Cartagena, cujo lema era “Conectando as Américas: Sócios para a prosperidade”, nada mais adequado que a da Torre de Babel, pois só houve desencontros.

Na foto final da IV Cúpula das Américas, realizada em 2005, todos usavam paletó e gravata, e na V (2009), as únicas exceções foram Hugo Chávez, Evo Morales e Daniel Ortega

Pequeno detalhe. Se houver uma próxima Cúpula “para a prosperidade” – o que não é certo –, não se sabe sequer como estarão vestidos os homens. Pois se na foto final da IV, realizada em 2005, todos usavam paletó e gravata, e na V (2009), as únicas exceções foram Hugo Chávez, Evo Morales e Daniel Ortega, na de 2012 apenas sete presidentes usavam paletó e gravata, enquanto o dobro estava simplesmente de camisa.

Ainda neste sentido, a VI Cúpula iniciou-se com uma partida de futebol. Não se sabe se houve paralelamente uma de vôlei para as mulheres ou se estas resolveram engrossar os times dos homens, pois hoje em dia tudo é possível. Mas a Cúpula propriamente dita – para a qual deveria pelo menos ter sido recomendado aos chefes de Estado um traje condigno – foi inaugurada pelo socialista chileno José Manuel Insulza, secretário-geral da OEA, seguida da execução do hino nacional do país anfitrião por uma cantora popular colombiana.

Quanto aos principais temas debatidos, não houve consenso, pois apesar de serem 31 os países representados, prevaleceu a opinião daquele que muitos teimam em dizer que estaria a ponto de ser superado pelo Brics: os EUA. Assim, ao se exigir do esquerdista Obama em ano eleitoral a inclusão de Cuba na próxima Cúpula, a legalização das drogas, e ainda o reconhecimento de que as Malvinas pertencem à Argentina, a resposta foi um peremptório não. E tudo “ficou como dantes no quartel de Abrantes”.

A presidente Cristina Kirchner voltou para a Argentina antes da hora, apressada talvez em assinar o decreto de desapropriação da empresa petrolífera espanhola Repsol, ampliando assim a briga que já mantém com a Inglaterra a propósito das Malvinas e atraindo a antipatia, não só desses dois países, mas de todo o bloco da União Europeia. Também sem explicar o motivo, a presidente Dilma cancelou a reunião que tinha marcada com o presidente colombiano Juan Manuel Santos.

A VI Cúpula terminou sem uma declaração conjunta e com a possibilidade de não ter sequência, pois a presença de Cuba (sócia pouco crível para a prosperidade) foi condição sine qua non posta pela maioria dos chefes de Estado para haver outras. O evento foi ainda obscurecido pelo escândalo perpetrado por membros da equipe de segurança do presidente Obama, que apesar de não estarem em Brasília, ignoravam que também lá havia caseiro.