segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Herança maldita do neoliberalismo...

Mensalão boliviano

Estarreceu a opinião pública boliviana o assassinato em La Paz, no dia 27 de janeiro, do empresário Jorge O’Connor, de 37 anos, do qual dois malfeitores em moto levaram nada menos que 450 mil dólares, que ele e um sócio acabavam de sacar de uma agência do Banco Unión.

No dia seguinte foram presos os principais suspeitos, entre eles Luis Fernando Córdova e seu irmão Ernesto, exploradores da prostituição naquela capital. O primeiro acompanhara os dois empresários até o banco para retirar o dinheiro, e conduzia o veículo quando este foi abordado por Rufino Rodríguez Coca, autor dos disparos, que o acusou depois de ter planejado o crime.

Para além do episódio policial, entrou em cena um fato político. A importância fora sacada da conta da estatal de petróleo boliviana YPFB e, ao que tudo indica, destinava-se a subornar o presidente desta, Santos Ramírez, homem da confiança de Evo Morales. Ele receberia o dinheiro como propina (10%) sobre o adiantamento de 4,5 milhões de dólares que a YPFB havia feito ao malogrado empresário, para que sua empresa, Catler Uniservice, com patrimônio de apenas sete mil dólares e sem referencial técnico, construísse uma fábrica separadora de gás liquefeito em Santa Cruz, projeto orçado em 86 milhões de dólares.

As suspeitas subiram de tom por duas outras circunstâncias: 1) um sócio de O’Connor na Uniservice, Mario Cossío, em cujo nome estava um dos cheques sacados, é assessor do braço direito de Ramírez; 2) um cunhado deste último alugava um apartamento no imóvel em frente ao qual se deu o crime, e estava ali naquele exato momento, juntamente com um primo da esposa de Ramirez, supostamente para receber o dinheiro.

Como resultado, Evo Morales, que de início tentou defender o “companheiro” – possuidor em La Paz uma mansão à venda por US$ 1,5 milhão – foi obrigado a exonerá-lo, nomeando para seu lugar o ex-ministro de Hidrocarburos e Planificação do Desenvolvimento, Carlos Villegas, a quem encarregou de fazer a sindicância juntamente com a vice-ministra de Transparência e Luta contra a Corrupção, Nardy Suxo. Visivelmente preocupado, num discurso que fez lembrar os de Lula quando seus melhores “companheiros” se viram comprometidos com o “mensalão”, Evo anunciou que “o companheiro Santos Ramírez tem a obrigação de defender-se diante da justiça, diante do povo boliviano e diante das instâncias correspondentes...”.

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