Na Espanha, súdito fiel
recrimina o Rei
“Que bom vassalo se tivesse um bom senhor!” – exclamou na longínqua Idade Média o invencível Cid Campeador, fidelíssimo ao seu rei, do qual preferiu fugir para não ser obrigado a lhe dar batalha.
“Que bom vassalo se tivesse um bom senhor!” – exclamou na longínqua Idade Média o invencível Cid Campeador, fidelíssimo ao seu rei, do qual preferiu fugir para não ser obrigado a lhe dar batalha.
Tal brado de fidelidade há pouco se repetiu na Espanha. Só que partido não de outro guerreiro, mas de uma frágil aeromoça da Ibéria. Seu timbre, contudo, é o mesmo de Cid: o respeito e o acatamento devidos ao rei não eximem a firmeza de princípios – “seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não”.
Perguntará o leitor qual foi o objeto da recriminação da Sra. Belém López Delgado a D. Juan Carlos de Bourbon e como a mesma se materializou.
Foi a recente sanção pelo monarca de uma iníqua lei de aborto reduzindo a idade da mãe para 16 anos e sua prática livre em nascituros de até 14 semanas! Para manifestar sua indignação, a Sra. Belém enviou uma carta ao rei, junto à qual lhe devolvia uma foto com dedicatória que dele recebera por ocasião de um vôo da Família Real a Roma e a qual ela conservava com especial apreço:
“Hoje, sinto-me na obrigação moral de lhe devolver essa fotografia que com tanto carinho e orgulho entesourei, e que, desde então, presidiu um lugar preeminente em minha casa” – afirmou –, para acrescentar que sempre considerou a Monarquia um “importante ponto de equilíbrio e reconciliação para a Espanha”.
“Alguém poderia advertir-me com acerto de que nossa Constituição o obriga [ao rei] a assinar tudo quanto é aprovado pela Câmara de Deputados. Entretanto, da mesma forma como o Sr. soube encontrar habilmente, em outras ocasiões pontuais e não tão distantes, alguns atalhos para contornar assuntos que tampouco contempla a Constituição, poderia ter agora lançado mão desse expediente para evitar esta lei assassina, que ofende a sensibilidade e a dignidade de incontáveis espanhóis”.
A Sra. Belém lembra que a nova lei desampara a mulher, desautoriza os pais das menores grávidas e desvincula os homens de toda responsabilidade, além de “coloca metade da Espanha contra a outra metade”.
Adverte, ainda, que o primeiro-ministro socialista Rodríguez Zapatero demonstrou querer governar só para os seus e “polarizou perigosamente todos os espanhóis, como nunca havia ocorrido na democracia”. Por isso, após reafirmar seu orgulho de ser espanhola, recomenda ao monarca não perder de vista “o dia em que um governo anti-espanhol como o atual puser a Coroa no seu ponto de mira, porque o Sr. Zapatero já demonstrou a inexistência de obstáculo na hora de satisfazer de qualquer modo aos seus”.
E conclui: “Por fim, seria muito de lamentar que ocorresse com a Coroa da Espanha algo parecido com o que motivou Winston Churchill a dizer ao seu opositor Neville Chamberlain: ‘Tínheis que escolher entre a desonra e a guerra... escolhestes a desonra, e ademais tereis a guerra’”.
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