terça-feira, 1 de abril de 2008

Não há fumaça sem fogo

Haveria alguma relação entre o reaparecimento de Hugo Chávez no Brasil, com o new-look de pacificador, e o anúncio do vice José Alencar de que os brasileiros estariam desejosos de um terceiro mandato para Lula?

A pergunta tem propósito, sobretudo para quem nutre alguma ilusão de que o projeto do mandatário venezuelano de perpetuar-se no poder cessou a partir do momento em que ele perdeu o referendo. Ou de que os índices de popularidade encomendados a institutos de opinião – a partir dos quais saem declarações como a de José Alencar – refletem o sentir da Nação.

Não só Chávez continua firme no seu propósito de permanecer indefinidamente, como o governo Lula parece querer imitá-lo naquilo que seria um plano continental: atuar para que governos de esquerda se perpetuem no poder, sob a alegação de que têm ainda muito por fazer... e depois ainda reclamar do período da ditadura!

Dois êmulos de Chávez já empreenderam este caminho: Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador. Mas se o instrumento do referendo não for viável, por que não apelar para as pesquisas – que seriam um referendo em escala menor – e depois apresentá-las como traduzindo um incontido clamor nacional?

Pareceria ser esta a atual manobra, a qual cresce em verossimilhança à vista de outro dado. Quando os referendos para reforma de Constituição estavam em alta na América do Sul, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, não se pejou em apresentá-la em Lima, no Peru, durante conferência, como uma das mais lídimas formas modernas de democracia.

Para que esse plano possa ser levado adiante, importa que Hugo Chávez se despoje do papel de guerrilheiro incendiário e assuma o de “pacificador” movido pelo desejo de empreender vantajosas joint-ventures com seus vizinhos. É o que ele acaba de fazer durante sua visita ao Brasil.

Um comentário:

J. Sepúlveda disse...

Excelente análise. É bem de desconfiar que o plano seja esse. Sobretudo, é preciso garantir a permanência no poder, agora que o ataque à cúpula das FARC atingiu o coração de um plano que tinha como um dos principais tentáculos a luta armada, espalhando-se a toda a América Latina.