Se a situação de esquecimento é penosa para qualquer pessoa, ela o é sobretudo para o demagogo. Era o que vinha sucedendo ao presidente venezuelano Hugo Chávez desde que ele foi derrotado no referendo de 2 de dezembro de 2007: praticamente saiu de cena na grande mídia.
Mas como está na índole do demagogo desempenhar qualquer papel – ele muda de um para outro com a mesma facilidade com que um político brasileiro troca de partido –, não foi difícil para Chávez apresentar-se com uma Gestalt de acordo com as conveniências do momento. Sobretudo tendo “companheiros” que pressurosos o ajudam... ou prometem ajudá-lo.
É o que aconteceu há pouco no Recife, quando o presidente Lula teve o desplante de afirmar que o “ex-guerrilheiro” Hugo Chávez foi o grande “pacificador” na recente crise entre o Equador e a Colômbia!
Isso equivaleu a chamar nossa opinião pública de imbecil, como se ela não se lembrasse da decidida atitude de beligerância de Chávez contra a Colômbia, a ponto de romper relações diplomáticas com ela e enviar tanques para a sua fronteira, quando o problema era com o Equador. Mais. Foi Chávez quem instigou o até então hesitante presidente equatoriano Rafael Correa a endurecer contra seu homólogo colombiano.
Ademais, a visita de Hugo Chávez ao Brasil acontece num contexto extremamente delicado para o Continente, com o qual o mandatário venezuelano tem muito que ver: a Argentina, sua aliada, está internamente em pé de guerra; o governo peruano encontra-se cada vez mais preocupado com as ingerências chavistas visando desestabilizá-lo; uma crise profunda continua instalada na Bolívia; e as feridas causadas pelo conflito entre o Equador e a Colômbia ainda não cicatrizaram.
Foi nesse contexto que o presidente Lula não titubeou em se referir ao incendiário Chávez com o título que ele tanto persegue e mais desmerece: o de “pacificador”. Título altamente lisonjeiro para quem se quer atribuir o papel de Simon Bolívar, na tentativa de retomar uma fracassada liderança em nível continental. Lula disse ainda uma coisa que todo mundo já sabia: que seu empenho em ver a Venezuela no Mercosul é tão grande quanto o do “companheiro” Hugo Chávez.
Além da aliança econômica com a Venezuela, o Brasil está à frente com ela de outra preocupante iniciativa: a de estabelecer uma aliança militar para a segurança continental. Iniciativa que seria simpática, caso não estivéssemos lidando com governos norteados por uma ideologia marxista e anticristã, a qual querem ver implantada nos demais países. Documentos recentemente apreendidos com as FARC deram conta do comprometimento dos governos da Venezuela e do Equador com aquele movimento terrorista.
Tornar-se-ão realidade os propalados acordos entre o Brasil e a Venezuela para a exploração de petróleo em Pernambuco? Ou terão o mesmo destino do “megalomeoduto” com o qual Chávez acenou há anos para uma integração sul-americana? Caso se concretizem os referidos acordos, terá valido a pena a parceria com um governo que tem usado sua riqueza como meio de desestabilizar os países vizinhos?
Cumpre lembrar que Pernambuco se tornou ultimamente um dos estados mais violentos do Brasil. Do mesmo modo como a Venezuela se tornou o país mais violento da América do Sul desde a ascensão de Chávez ao poder (o índice de criminalidade é o dobro do registrado no Brasil ou no México!). Que o “pacificador” não jogue mais lenha na fogueira!
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