quinta-feira, 9 de julho de 2009


Michael Jackson: herói ou guru?

Helio Dias Viana

É difícil brotar verdadeiros valores do mundo massificado e globalizado no qual vivemos. Isso porque tanto a massificação como a globalização conduzem à despersonalização e, portanto, ao oposto daquilo que tem de fato valor e autenticidade.

Nessas condições, destaca-se a justo título aquele que consegue retirar de si forças para sobrepujar esse obstáculo e se impor pela afirmação da sua própria personalidade. Tanto mais ele se sobressairá quanto mais se afirmar no sentido do bem, tornando maiores as suas discrepâncias com tudo aquilo que for sinônimo de incerteza e indefinição.

Isso outrora era mais fácil, porquanto as pessoas eram fruto do povo, edificado gradualmente de dentro para fora pela operosa influência de valores familiares hauridos do passado cristão, e não da massa, construída artificial e desordenadamente de fora para dentro ao sabor da propaganda e da moda revolucionárias.

Michael Jackson foi um fenômeno lançado nos anos oitenta por certo metteur-en-scène ao qual se amoldou inteiramente, assimilando todas as características da massificação e da globalização nele inoculadas; tornou-se um ser hermafrodito ou andrógino – descaracterizado, portanto, inclusive no tocante ao sexo –, despersonalizado, supra-religioso e artificial. Ele não se fez, não construiu a sua própria personalidade, mas foi “fabricado” de fora para dentro por alguém que de comum acordo com ele se utilizou das suas inegáveis qualidades naturais para um determinado fim.

Qual foi esse fim? Michael Jackson tornou-se o próprio símbolo de uma época de dubiedade, incerteza e indefinição na qual mais do que nunca importava aos homens serem lógicos e conseqüentes; onde o sim fosse sim, e o não, não; onde o homem fosse másculo, e a mulher, delicada; onde o belo e o feio fossem excludentes, incapazes de conviver promiscuamente, e assim por diante. Jackson foi, em suma, o homem-símbolo de uma imensa revolução igualitária e relativista, onde as indispensáveis diferenças entre sexo, idade, cor – entre outros atributos inconfundíveis do homem –, se adelgaçassem a ponto de quase desaparecerem.

A propaganda descomunal feita em torno dele, tanto durante a vida como post-mortem, foi mais eficaz para a disseminação dessa perniciosa forma de mal que é o relativismo, do que se para isso tivessem sido escritas várias obras. Pois Michael Jackson não explorou somente a música – um dos meios mais eficazes e penetrantes de propaganda –, mas também criou e encarnou um tipo humano, um estilo e um modo híbridos de ser, altamente destrutivos da ordem cristã e úteis à Revolução Cultural. Ele conseguiu resumir numa só pessoa e disseminar a partir de si mundo afora aquilo que pode haver de mais monstruoso e antinatural: o ser e o não ser.

Por que o mais monstruoso? Simplesmente porque nós homens fomos criados à imagem e semelhança de Deus, que disse de Si: “Eu sou Aquele que é”. Portanto, quanto mais formos nós mesmos, isto é, desenvolvamos as características inatas decorrentes da nossa personalidade individual – e não coletiva, como se dá com a massa trabalhada pela propaganda –, chamando de feio ao feio, de bem ao bem e de mal ao mal, mais nós nos assemelhamos a Deus, nosso Criador. Pelo contrário, quanto mais indefinidos, dúbios, híbridos, tanto mais nos distanciamos de Deus e nos parecemos com o demônio.

Realiza-se, portanto, e se torna um herói digno de ser imitado aquele que domina as suas paixões e se submete ao império da razão e da Fé. Michael Jackson teria sido tal se tivesse assim agido. Infelizmente ele não o fez, pois teria ficado um ilustre desconhecido aos olhos dos homens, embora bem cotado junto de Deus, com Quem se teria assemelhado aqui na terra para gozar depois de Sua companhia por toda a eternidade.

Ao caminho árduo mas glorioso dos heróis que forjam o próprio rumo Michael Jackson preferiu submeter-se à manufatura que gera gurus notórios e prenhes de vício. Desbordou-se em vez de controlar-se, à excelência quis o excesso, à temperança o desbragamento. E assim morreu como viveu: sob os holofotes da mídia e idolatrado por fãs enlouquecidos que vivem de sua grotesca imitação. Ele teve popularidade, que é a glória efêmera dos demagogos, mas não a glória, que é a popularidade dos heróis e dos santos, de acordo com Plinio Corrêa de Oliveira.

Caso tivesse trilhado a senda dos heróis e dos santos – conhecido ou não de outros mortais como ele, quê importa? –, Michael Jackson teria tido sem dúvida a verdadeira e sempiterna popularidade, que é a glória que o próprio Deus reserva a todos aqueles que O temem e servem. Sejamos todos fãs daquilo que Michael Jackson deveria ter sido e não foi!









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