sexta-feira, 15 de outubro de 2010

“Atestado de Bons Antecedentes”

Universalmente conhecido, o Atestado de Bons Antecedentes é conferido pela autoridade policial competente àqueles que dele necessitam para diversos fins, e no qual a referida autoridade atesta nada constar nos seus registros de contrário à vida ilibada do solicitante.

Eis, contudo, um inusitado “Atestado” que me caiu nas mãos, através do qual o ex-terrorista e prócer da Teologia da Libertação frei Beto, amigo de Fidel Castro e defensor do regime cubano, dá fé dos bons antecedentes da ex-terrorista e candidata petista à Presidência da República, Dilma Roussef.

A veracidade de suas afirmações conferirá por certo com a dos Atestados que os chefes dos sovietes previstos no PNDH-3 darão aos seus “companheiros” em caso de necessidade. Em todo caso, de posse do mesmo, Dilma poderá talvez até lê-lo nas entrevistas e nos comícios, tanto mais quanto ele procede de um religioso...

Mas pasmem, pois além de chamar a atenção dos bispos que ousam criticar a Dilma por ser abortista, frei Beto – com o mesmo desembaraço com o qual a candidata imagina enganar a opinião pública desdizendo-se de afirmações anteriores – escreve que tais acusações provêm de uma “campanha difamatória – diria, terrorista”!

Ainda no afã de tentar inocentar Dilma, agora da pecha de “marxista atéia”, frei Beto diz que ela nunca o foi porque na prisão “participava de orações e comentários do Evangelho”. Teria sido preciso ele dizer quais eram essas orações e qual o teor dos comentários. Se não era o Pai Nosso blasfemo que ele andou publicando nos jornais e se os comentários não incluíam, por exemplo, a blasfêmia tão repetida pela esquerda, de que Jesus Cristo foi o primeiro comunista.

Mas o ateísmo já não é mais apanágio do comunismo de hoje. Ele o deixou para uso de alguns neoliberais que simpatizam com sua doutrina... O new-look do comunismo reproduziu-o José Dirceu quando afirmou ter ouvido de Fidel Castro que se este tivesse conhecido a Teologia da Libertação há mais tempo, a Revolução Cubana não teria incidido em tantos erros. Com isso Fidel quis significar que agir com a pecha de católico – como o fazem os adeptos da TL – é muitíssimo mais eficaz para a causa comunista que na condição de ateu. – Que o diga o próprio frei Beto.

P.S.: Como frei Beto é partidário do miserabilismo cubano, estou certo de que não me chamará de terrorista se lhe retiro um dos tês do apelido, por ser supérfluo. E sugiro à Folha a fazer o mesmo.

Folha de S. Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

Dilma e a fé cristã
Frei Betto
Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em BH. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de “marxista ateia”.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, nos dois anos em que participei do governo Lula. Posso assegurar que não passa de campanha difamatória — diria, terrorista — acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos.
Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.

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