Os mandatários da Venezuela e do Equador – apanhados em flagrante delito no crime de colaboração com os terroristas das FARC –, com o mesmo despudor com que trataram a Colômbia durante a recente crise que os estremeceu, acenam agora para ela como se fossem excelentes amigos que nunca tiveram qualquer desentendimento. Ou que se por acaso o tiveram, dele haviam perdido a memória.
Ora, como acreditar em palavras e atitudes de quem não respeita nem sequer o tempo – calmo e sóbrio dissipador de rusgas – para, sem renunciar a seus propósitos, transformar a carranca em sorriso e estender, em atitude de amizade, a mesma mão que há pouco empunhava um punhal?
É óbvio que a guinada repentina de Hugo Chávez e Rafael Correa – que por conveniência deve ser mais cauto – é mais uma prova de que eles foram os grandes perdedores para a Colômbia. Não só no terreno militar e diplomático, mas sobretudo no plano muito mais vasto da opinião pública, tanto colombiana como internacional. E que precisam portanto com urgência mudar de jogo.
Situação que lhes complica mais uma vez a vida. Se o plano inicial de Chávez era a vitória no referendo de 2 de dezembro – que modificasse a Constituição e o consolidasse no poder, para continuar impulsionando Correa no Equador e Morales na Bolívia –, sua derrota deixou manco o tripé. Ainda mais quando se considera que embora Correa e Morales tenham conseguido mudar a Constituição, o êxito deste último ficou por enquanto só no papel, tais as resistências internas que vem encontrando. E que começam a assomar-se também no Equador.
Um dado curioso em tudo isso é que, ao mesmo tempo em que nesses três países se lançavam referendos para modificar a Constituição e perpetuar os respectivos mandatários, no Brasil havia jeitosas sondagens a respeito de um terceiro mandato de Lula... E pari passu o secretário-geral do Itamaraty e ideólogo da política externa brasileira, Samuel Pinheiro Guimarães, fazia em Lima uma conferência em que apoiava os aludidos referendos – com a massa da população previamente trabalhada por programas assistenciais de índole eleitoreira – apresentando-os como se fossem a mais lídima expressão da democracia.
Isso, que fazia pressagiar um plano geral para o continente, foi posto de lado a partir da derrota de Hugo Chávez no referendo de 2 de dezembro. Ele se auto-convidou então a desempenhar junto às FARC – et pour cause – o papel de mediador para a libertação de reféns. Até o momento em que sobreveio a crise decorrente da morte de seu principal interlocutor – e vítima, pois foi uma ligação de Chávez que possibilitou sua localização –, o narco-guerrilheiro farcista Raúl Reyes.
Quais serão o enredo e o desenvolvimento da próxima cena no teatro de operações da América Latina? Seus atores estão no palco, atentos às palavras do soprador. Este ditará atitudes de distensão ou de carranca?
Seja como for, ele só agirá em conformidade com as reações do público, em particular do colombiano, o qual jamais poderá esquecer que uma porção expressiva de seus membros – irmãos, pais, filhos ou parentes – continua seqüestrada nas selvas, agrilhoada e tratada como animais, não sabendo sequer se sairá viva. Cumpre a este público não baixar a guarda!
domingo, 16 de março de 2008
Colômbia: não baixar a guarda!
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