O alvo desta vez foi Raúl Reyes, o segundo na hierarquia das FARC e porta-voz internacional do grupo. Ele morreu na selva equatoriana, juntamente com 16 integrantes de sua coluna, a 1800 metros da fronteira com a Colômbia. A aviação colombiana abriu fogo contra o acampamento guerrilheiro, que foi depois tomado por um contingente do exército. Na ação morreu o soldado Carlos Hernández León, festejado em seu país como herói nacional.
A notícia caiu como uma bomba na Colômbia, cuja população se solidarizou com o governo pelo formidável tento. No espaço reservado a comentários, na página virtual de “El Tiempo”, o principal jornal do país, regurgitaram as mensagens. Eis algumas:
– “... isto é melhor do que vencer de 10x0 a Argentina ... do que ganhar do Brasil, do que golear a Alemanha. Isto é golear o gorila Chávez, o títere equatoriano, a Piedad Córdoba. Tirofijo [septuagenário líder das FARC], aproveita e morre de velho, porque vamos por ti...”
– “Que vá agora fazer terrorismo no inferno!!!”
– “Não estou de acordo em assistir a essa farsa de marcha de 6 de março [organizada pelas esquerdas], pois isso é apoiar a Piedad Córdoba, ao orangotango Chávez e a todos esses miseráveis do Polo [partido da esquerda] e as FARC. Claro que se fosse para celebrar este maravilhoso acontecimento de hoje, estou certo de que sairia o dobro de gente que saiu em 4 de fevereiro. Realmente, hoje sim, é um belo dia”.
– Que o enterrem na Venezuela, para que os vermes da Colômbia não se envenenem!”.
– “Esta conversa de que a Ingrid está doente não é senão para pressionar o governo para que libere a área que querem [as FARC], porque lhes convém para se encherem de armas...”
– “... Quem não apóia o governo colombiano, que vá para a Venezuela onde [está] o chefe supremo das FARC; mas isso sim, sem despesas para os colombianos. ... Não me alegro pela morte do tipo, mas sinto um refrigério; oxalá caiam mais assim. Avante, exército colombiano! É melhor trazer 50 corpos de mártires do que ter um país inteiro neste soçobro...”
Enquanto assim se manifestava o povo colombiano, vítima há décadas das piores atrocidades das FARC, Hugo Chávez e seu êmulo equatoriano, Rafael Correa, ficaram indignados, tomando as dores dos guerrilheiros, como se tratasse de pessoas inocentes, e não dos piores e mais frios assassinos. Ambos exigem explicações da Colômbia como se um ultraje tivesse sido feito à humanidade! Chávez pediu um minuto de silêncio pelo guerrilheiro, fechou a embaixada em Bogotá e afirmou que, se isso tivesse ocorrido na Venezuela, haveria guerra! Mais uma eloqüente amostra do “humanitário” e “compassivo” mediador dos reféns das FARC!
Ora, o presidente Uribe havia telefonado a Rafael Correa avisando-o da operação. Procedeu como alguém que atacado continuamente por bandidos que depois se refugiassem impunemente em terreno baldio de um vizinho cúmplice, participava a este da retaliação em legítima defesa.
Mas para bem aquilatarmos quem são essas “maravilhosas” pessoas das FARC, tão queridas daqueles dois chefes de Estado (e provavelmente de outros que não se pronunciaram...), eis um dos inúmeros crimes que elas cometeram contra vítimas inocentes. Retirei esta notícia do referido jornal “El Tiempo”, de 9 de março de 2006:
Eles a mataram por resgatar o cadáver de seu esposo
A última vez que seus 27 alunos a viram, Luz Myriam Farias estava nervosa e não parava de chorar. Tinha ido à escola do vilarejo Caño Claro escusar-se, porque não podia dar aula. Devia partir para Tame (Arauca), a fim de buscar o cadáver de seu esposo. Pediu a uma vizinha para cuidar de sua casa até seu regresso. Seu marido, o governador indígena dos ghaíbos makaguán, Juan Ramírez Villamizar, tinha sido assassinado no domingo pelas FARC, quando voltava das compras em Tame.
Na terça-feira, cheia de angústia ao saber da notícia, Luz Myriam pediu emprestado um cavalo, e se dispôs a viajar sozinha. Mas teve que apear do animal, quando lhe avisaram que tinham visto o corpo de seu esposo em Quenane, a uma hora dali.
Em seguida ela foi procurar o único telefone do vilarejo, e telefonou para a Personería de Tame e à Associação de Cabildos e Autoridades Tradicionais Indígenas de Arauca (Ascatidar), para coordenar o envio de um carro fúnebre. Com uma foto do governador na mão e acompanhada por três pessoas do povoado, conseguiu um veículo e empreendeu viagem.
Não o deixaram regressar
Segundo a Polícia, Juan Ramírez saiu de moto no domingo. Ao voltar, foi interceptado por guerrilheiros. Depois de ameaçá-lo por ter desacatado a ordem de proibição de circular, tiraram-lhe o veículo e o levaram para as montanhas. Dispararam três vezes na sua cabeça e o deixaram atirado próximo da estrada.
Ali o encontrou Luz Myriam, e todos subiram no carro. Quando regressavam, o carro fúnebre se deteve abruptamente. Foram surpreendidos por uma barreira ilegal das FARC, no lugar conhecido como Flor Amarillo. Ali, segundo disseram testemunhas, os subversivos obrigaram a professora a descer do veículo, e sem dizer palavra dispararam duas vezes na sua cabeça.
A Frente 10 das FARC deu ordem para não se transitar pelas vias dos sete municípios do Arauca a partir de 23 de fevereiro. As perdas no departamento [estado] são estimadas em 10 bilhões de pesos. Ainda não se sabe quem substituirá Luz Myriam, que aos 26 anos pensava entrar na universidade. O féretro se realizou ontem em Tame.
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