Costumou-se associar atitudes de intolerância ao fundamentalismo islâmico com sua jihad contra o Ocidente cristão.
Ora, neste mesmo Ocidente está em curso outra jihad, a do laicismo, pior que a muçulmana. Porque enquanto a primeira procede de gentios, esta é perpetrada pelos que renegaram o Batismo e abraçaram o neo-paganismo.
Na católica Espanha, por exemplo, a crescente animadversão do governo do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) pela Religião não tem poupado esforços para erradicar da sociedade todo e qualquer traço de sua salutar influência. E também na União Européia tomada em seu conjunto, cujo projeto de Constituição teima em silenciar as raízes cristãs da Europa, enquanto suas leis incentivam tudo quanto se opõe à moral católica: aborto, união homossexual etc.
O mais recente lance desta jihad laicista se deu na Cidade Eterna, mais precisamente na Universidade La Sapienza, fundada pelo Papa Bonifácio VIII em 1303.
Estava prevista para o dia 17 de janeiro p.p. uma visita do Papa Bento XVI àquele estabelecimento, com um corpo docente de 4.500 professores. Destes, apenas 67, acompanhados por um punhado de alunos, se opuseram à honrosa visita, ameaçando conturbá-la. Afirmaram que em 1990 o então Cardeal Ratzinger, um “reacionário”, ousara fazer reparos a Galileu!
O Santo Padre julgou então prudente não comparecer. Enviou um discurso, o qual após ser lido pelo Reitor, fez com que toda a Universidade estrugisse em aplausos.
O episódio redundou em glória não só para o atual Pontífice, como também para o seu longínquo predecessor, o Papa Bonifácio VIII, que no ano de 1303 viveu um paradoxo: ao mesmo tempo em que dava La Sapienza ao mundo, sofria um sacrílego atentado que marcou a ruptura desse mesmo mundo com a Sabedoria.
Com efeito, o fim da Idade Média tem sido assinalado pela bofetada que Nogaret, emissário de Felipe IV, desferiu na face de Bonifácio VIII naquele ano de 1303, fazendo-o morrer de desgosto pouco tempo depois.
Sucederam-se o Humanismo, o Protestantismo, a Revolução Francesa e o Comunismo, que em vão tentaram extinguir a Igreja e a Civilização Cristã dela nascida, ancorada no Papado.
O que diria Voltaire (cujo lema era “écrasez l’infâme” – esmagai o infame, referindo-se a Nosso Senhor), se pudesse antever que um minguado contingente de seguidores seus iriam, no século XXI, hostilizar um Sucessor de São Pedro e receber como resposta o desagravo entusiasmado de mais de 100 mil fiéis de todas as idades, profissões e condições sociais?
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